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Diagnóstico precoce e tratamento são essenciais para quem tem esclerose múltipla

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Brasil
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Estima-se que 15 a cada 100 mil pessoas tenham esclerose múltipla no Brasil, enfermidade neurológica, crônica e autoimune que provoca lesões cerebrais e medulares. Incurável e de difícil diagnóstico, a doença inflamatória do sistema nervoso central tem, neste domingo (30), o  Dia Nacional de Conscientização, por  isso, o mês é denominado Agosto Laranja, para dar visibilidade sobre esse mal que impacta de forma significativa a qualidade de vida das pessoas.

Em Belém, o Hospital Ophir Loyola (HOL) mantém há 12 anos um Ambulatório de Doenças Desmielinizantes, que são disfunções ocasionadas por uma inflamação na bainha de mielina - substância que ajuda na condução dos impulsos nervosos - dentre elas, a esclerose múltipla. O chefe do Instituto de Neurologia, Hideraldo Cabeça, explica que a causa é desconhecida, mas com características imunomediadas. Isso significa que as próprias células de defesa atacam o sistema nervoso central, originando os sintomas.

“Há algum estímulo para que haja um ataque do corpo da pessoa, seja no nervo óptico alterando a visão, seja na medula alterando a sensibilidade, seja na função motora impedindo a ação de caminhar e de marcha, seja no tecido nervoso cerebral alterando movimentos. Então pode ocorrer a paralisia de um braço, de uma perna, e essas características são duradouras e demoram mais de 24 horas. É isso que chama a atenção para uma aspecto peculiar da doença que a gente chama de surto”, explica o especialista.

Os surtos são imprevisíveis e desencadeiam alterações da sensibilidade, da função motora, da força muscular ou de movimentação ocular. Essas são as principais características que afetam, principalmente, jovens na faixa etária de 20 a 40 anos. Muitos pacientes que chegam ao Hospital Ophir Loyola, tiveram alguns surtos durante a vida. “Às vezes um formigamento no braço que dura de 5 a 7 dias, pode ser um surto de esclerose múltipla. Uma pessoa jovem que apresente alteração sensitiva, no movimento dos olhos, dificuldade urinária ou para andar, obrigatoriamente o médico precisa pensar nesta possibilidade”, afirma o neurologista.

Qualidade - O tratamento é feito com drogas a base de corticoides na fase de surto e drogas de controle, fornecidas pelo Ministério da Saúde. A enfermeira Ana Sales, 39 anos, já tinha um irmão com diagnóstico de esclerose múltipla e teve o primeiro surto em 2016. Apesar do susto, Ana consegue levar um vida normal. “Fico um pouco abalada emocionalmente por ser uma doença crônico degenerativa, mas tem o controle. Ando, falo, trabalho, levo uma vida normal, diferente do meu irmão. À época do surto entrei de benefício e fiquei três meses afastada das minhas atividades. O medo é chegar no ponto que meu irmão está”, diz.

Ainda existe uma dificuldade pelos profissionais de saúde em reconhecer a esclerose múltipla em fase inicial, pode ser facilmente confundida com outras condições. Hideraldo Cabeça recomenda que na presença de um sintoma duradouro, um médico deve ser procurado na Unidade Básica de Saúde e, em casos mais graves, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “As queixas mais  comuns são motoras, visuais e sensoriais, porém também incluem a depressão, a fadiga intensa, a disfunção urinária ou de bexiga, a disfunção sexual nos homens e a redução da libido nas mulheres”, esclarece.

O médico dará o primeiro atendimento e verificará se é necessário referenciar o paciente a um centro de referência em neurologia ou  a uma consulta com o neurologia. O especialista fará o diagnóstico diferencial para investigar se a doença desmielinizante está relacionada, por exemplo, a um vírus ou a uma doença relacionada ao lúpus.  “A priori é evitar que a situação se agrave, a avaliação precoce é fundamental para que o tratamento consiga atenuar os efeitos e retardar a progressão da esclerose múltipla”, ressalta o chefe do Instituto de Neurologia do Ophir Loyola.

 

Estrutura - O Centro de Referência do HOL é estruturado e oferta atendimento tanto na fase aguda quanto na investigação por meio de exames de ressonância magnética, líquor ou outro método diagnóstico necessário. A assistência faz interface com as outras especialidades, tais como oftalmologia, otorrinolaringologia, neuropsicologia, fisioterapia, dentre outras importantes nesse atendimento.

Cerca de 600 pacientes são acompanhamos com doenças desmielinizantes, das quais 150 recebem atendimento para esclerose múltipla. São pacientes com neurite óptica, mielites ou lesões encefálicas desmielinizantes que podem migrar na evolução da doença para um diagnóstico de esclerose múltipla. “Recebemos uma série de fenômenos que são encaminhados para o diagnóstico e acompanhamento nos vários ambulatórios que temos, sobretudo no ambulatório de doenças desmielinizantes inflamatórias”.

André Coutinho Rossy, 40 anos, passa a cada três meses por consultas no hospital. O empresário recorda que sentiu uma falta de sensibilidade nas pontas dos dedos em 2010. Passou por consulta clínica na rede privada, pensava que fosse a coluna, porém não conseguiu fechar um diagnóstico. Precisou ir a São Paulo, onde recebeu a notícia em 48 horas. “Conviver com a doença tem um incômodo de precisar se medicar. Agora quero mudar a medicação de injetável para via oral. A doença não é muito agressiva em mim, não tenho sequelas e consigo trabalhar normalmente”, relata. 

Referência - Certificado como Hospital de Ensino e Pesquisa, o HOL treinou diversos médicos, estudantes de medicina que ouviram sobre a esclerose múltipla, doenças imunomediadas e desmielinizantes pela primeira vez durante o período de residência. É a única residência médica em neurologia do Estado do Pará com suporte de diversas especialidades. A instituição de saúde recebe, inclusive, profissionais do interior do estado para treinamento. 

O paciente é referenciado  para receber atendimento especializado. Ao chegar ao hospital passa pelo ambulatório de triagem  que verifica se o quadro clínico é compatível ou não, recebe assistência inicial para ser encaminhado ao setor específico. Aquele que chega com surto, passa por avaliação e, caso necessário, internação.  Nessa situação, recebem medicações de forma rápida e existe uma chance enorme de retorno ao padrão inicial, se estava com dificuldade de visão volta a enxergar, se estava com dificuldade de andar, volta andar e passa também por reabilitação precoce. 

A reabilitação tem início no hospital, ocorre com  suporte de equipe multiprofissional, por meio de gameterapia ou outras formas de estimular o paciente. “Acolhemos, orientamos e buscamos reduzir a ansiedade, sanar a depressão sofrida por muitos. A doença não escolhe classe social, recebemos desde braçais a pessoas com nível superior”, disse o especialista.

Existem formas diferentes da doença, a principal é o surto-remissão. A maioria tem um surto, é tratada e volta ao seu padrão de normalidade.  Apesar de acometer mais pessoas em idade produtiva, pode atingir qualquer faixa etária. Qualquer queixa duradoura, por menor  menor que seja, como visão turva ou formigamento no braço deve ser investigada.  “O Agosto Laranja chama  a atenção para a existência da esclerose múltipla, alerta sobre a importância do diagnóstico precoce para retardar o curso da doença que tem controle, com o tratamento adequado é possível que o indivíduo possa contribuir na sociedade”, destaca Hideraldo Cabeça.

Por Leila Cruz